SIEX - Sistema de Informações de Extensão

25549 - Uma Introdução a Questões de Filologia Textual em Filosofia Antiga (vespertino)
Ano Base: 2024
Tipo de ação: CURSO DE EXTENSÃO
Plano de ensino

Plano de ensino: Quando lemos, hoje, os filósofos da Antiguidade, os textos que chegaram a nós são o fruto de um processo a cada etapa sujeito a perdas e adulteração, no qual os esforços de transmissão garantem somente precariamente a preservação do saber. Qual o caminho trilhado por um texto sucessivamente copiado e recopiado através dos séculos, de rolos de papiro ao códice medieval e deste finalmente ao livro impresso? Que valor podem ter as fontes secundárias (paráfrases, citações e traduções feitas por autores tardios)? Em que consiste a tarefa de fixar o texto a partir dos testemunhos extantes e fazer anotação das variantes em uma edição crítica? E o que deve o interessado conhecer a esse respeito a fim de que possa, mediante uma reflexão informada, fazer valer a autonomia de pensamento e o direito à verdade na investigação do legado de nossos predecessores? Partindo do manual de Livio Rossetti (Introdução à filosofia antiga: as premissas filológicas e outras ¿ferramentas de trabalho¿ [Paulus, 2006]), num primeiro momento caracterizaremos o escopo e os procedimentos da filologia textual, a fim de num segundo momento analisarmos alguns passos das Refutações Sofísticas de Aristóteles onde as considerações filológicas lancem luz sobre impasses e questões perenes de interpretação.

Objetivos e Resultados Esperados: Familiarizar o interessado com os métodos e elementos essenciais da filologia textual aplicada ao estudo da filosofia da Antiguidade. Familiarizar o interessado com as formas de transmissão textual da Antiguidade aos tempos modernos e as principais etapas da história da tradição manuscrita. Familiarizar o interessado com as principais etapas da história da escrita (maiúscula, uncial, cursiva, minúscula) e de seu suporte material (pinax, volumen, codex, incunabulum) da Antiguidade aos tempos modernos. Familiarizar o interessado com os métodos de crítica textual e as etapas de produção de uma edição crítica (recensio, collatio, eliminatio, constitutio, instructio). Fornecer ao interessado as competências necessárias para, em nível geral, poder avaliar as escolhas feitas por editores modernos ao fixar o texto de obras da Antiguidade. Fornecer ao interessado as competências necessárias para, em nível geral, poder apreciar o significado e o valor de variantes textuais, emendas e conjecturas em uma edição crítica. Questionar a noção de ¿texto original¿ a partir da constatação de que as mais antigas cópias supérstites de obras de Platão e Aristóteles estão a uma distância de mais de 1200 anos de seu autor e nada mais são do que os frutos tardios de uma história de transmissão a cada etapa sujeita a corrupção e perdas. Questionar a noção de ¿texto original¿ a partir da constatação de que os esforços de editores modernos de restituir o mais remoto estágio de transmissão textual dependem de escolhas que não são passíveis de comprovação definitiva e não são suficientes para transpor plenamente o hiato que separa as cópias e demais testemunhos de uma obra de seu autor. Apresentar a público amplo parte do trabalho de preparação para publicação de uma tradução comentada de uma obra da Antiguidade. Oferecer uma disciplina regular do Curso de Filosofia aberta a público externo, em modalidade de extensão, superando as barreiras e limites do trabalho acadêmico.

Justificativas: Curso de Extensão correspondente ao oferecimento de vagas a interessados externos de Unidade Curricular do Curso de Filosofia da UNIFESP, oferecida tanto para a comunidade UNIFESP quanto para a comunidade externa, cujo objetivo é apresentar o trabalho do Projeto de Extensão ¿Os Classicismos Grego e Latino - Língua, Literatura, Filosofia, História, Arqueologia, Artes e Cultura em Geral¿, vinculado ao Núcleo de Estudos Clássicos da UNIFESP. Consta como Unidade Curricular Eletiva Extensionista do Curso de Filosofia e, para interessados externos, como curso de extensão presencial.

Metodologias: Aulas expositivas, leitura e análise de textos.

Conteúdo programático com responsáveis pedagógicos por tema/assunto - aula ou grupo de aulas: INTRODUÇÃO AULA 01 (07/10): cultura literária e filologia clássica PRIMEIRA ETAPA (as premissas filológicas) AULA 02 (14/10): transmissão textual e tradição manuscrita: o suporte material e a escrita, através dos tempos AULA 03 (21/10): as etapas da produção de um manuscrito AULA 04 (04/11): questões de paleografia e cronologia AULA 05 (11/11): crítica textual e edição crítica: o dito ¿método de Lachmann¿ e as alternativas AULA 06 (18/11): o estabelecimento do texto e o aparato crítico SEGUNDA ETAPA (a teoria da argumentação de Aristóteles) AULA 07 (25/11): o corpus aristotélico e a sua história AULA 08 (02/12): a teoria da argumentação de Aristóteles AULA 09 (09/12): argumentação dialética e a refutação socrática AULA 10 (16/12): a sofística como contrafação da argumentação dialética e a lista de treze falácias TERCEIRA ETAPA (análise de passos das Refutações Sofísticas de Aristóteles) AULA 11 (13/01): estudo de caso (I) AULA 12 (20/01): estudo de caso (II) AULA 13 (27/01): estudo de caso (III) AULA 14 (03/02): estudo de caso (IV) AULA 15 (10/02): estudo de caso (V)

Referências (bibliográficas e outras): Bibliografia ba¿sica: BRUNSCHWIG, J. Aristote: Topiques. Les Belles Lettres, 1967 (vol. 1) / 2007 (vol. 2). DORION, L.-A. Aristote: Les réfutations sophistiques. Vrin, 1995. FAIT, P. Aristotele: Le confutazioni sofistiche. Laterza, 2007. ROSS, W.D. Aristotelis Topica et Sophistici Elenchi. Oxford, 1958. SEGURADO E CAMPOS, J.A. Aristóteles: Tópicos. INCM, 2007. SMITH, R. Aristotle: Topics, Books I and VIII. Clarendon, 1997. Bibliografia complementar: ARNS, P.E. A técnica do livro segundo São Jerônimo. UNESP / Imprensa Oficial, 2018. BARNES, J. (ed.) The Cambridge Companion to Aristotle. Cambridge, 1995 [trad. port. Aristóteles. Ideias & Letras, 2009]. BERTI, E. Profilo di Aristotele. Studium, 2009 [trad. port. Perfil de Aristóteles. Paulus, 2012]. CANART, P. Lezioni di paleografia e di codicologia greca. Vaticano, 1980. CANFORA, L. La biblioteca scomparsa. Sellerio, 1986 [trad. port. A biblioteca desaparecida. Companhia das Letras, 1989]. ___. Il copista come autore. Sellerio, 2002. CAVALLO, G. & CHARTIER, R. (eds.) Storia della lettura nel mondo occidentale. Laterza, 1995 [trad. port. História da leitura no mundo ocidental. 2 vols. Ática, 1998-9]. CAVALLO, G. Scrivere e leggere nella città antica. Carocci, 2019. DORANDI, T. Le stylet et la tablette: dans le secret des auteurs antiques. Belles Lettres, 2000. GREENBLATT, S. The Swerve: How the World Became Modern. W.W. Norton, 2011 [trad. port. A virada: o nascimento do mundo moderno. Companhia das Letras, 2012]. LAFAYE, J. Por amor al griego: la nación europea, señorío humanista (siglos XIV-XVII). FCE, 2005. MAAS, P. Textkritik. Teubner, 1950 [trad. ingl. Textual Criticism. Clarendon, 1958; trad. it. Critica del testo. Le Monnier, 1990]. MAUNDE THOMPSON, E. An Introduction to Greek and Latin Palaeography. Clarendon, 1912. PASQUALI, G. Storia della tradizione e critica del testo. Le Lettere, 1988. REYNOLDS, L.D. & WILSON, N.G. Scribes and Scholars: A Guide to the Transmission of Greek and Latin Literature. Clarendon, 1991. ROBERTS, C.H. & SKEAT, T.C. The Birth of the Codex. British Academy, 1983. ROSSETTI, L. Introduzione alla filosofia antica: premesse filologiche e altri ¿ferri del mestiere¿. Levante, 1998 [trad. port. Introdução à filosofia antiga: premissas filológicas e outras ferramentas de trabalho. Paulus, 2006]. SANDYS, J.E. A History of Classical Scholarship. 3 vols. Cambridge, 1903-8. STAÏKOS, K. The History of the Library in Western Civilization. 5 vols. Oak Knoll, 2004-12. ___. The Library of Aristotle. Oak Knoll, 2016. STEINER, G. No Passion Spent. Faber & Faber, 1996 [trad. port. Nenhuma paixão desperdiçada. Record, 2018]. UNTERSTEINER, M. Problemi di filologia filosofica. Cisalpino-Goliardica, 1980. WEST, M. Textual Criticism and Editorial Technique, Applicable to Greek and Latin Texts. Teubner, 1973. WILAMOWITZ-MOELLENDORFF, U. Geschichte der Philologie. Teubner, 1921 [trad. port. História da filologia. Mnêma, 2023].

Modo e Critérios de avaliação: Dissertação final (a ser enviada até 14/02) sobre a contribuição da filologia textual para o estudo da filosofia da Antiguidade. Será avaliada, primariamente, a compreensão concreta do intrincado processo de transmissão textual e suas vicissitudes, bem como a capacidade concreta de aquilatar as escolhas feitas por editores modernos em passos seletos.

Estratégias de Divulgação: Canais de divulgação da UNIFESP; redes sociais do Núcleo de Estudos Clássicos da UNIFESP; mailing do grupo de pesquisa Linguagem e Argumentação em Aristóteles (vinculado ao Núcleo de Estudos Clássicos da UNIFESP).

Recursos didáticos: Digitalizações de manuscritos serão projetadas em sala para o estudo da tradição textual e da evolução da escrita e de seu suporte material durante os séculos; a bibliografia secundária será fornecida em tradução para o português; as fontes primárias para o estudo da tradição textual e a própria tradução das Refutações Sofísticas de Aristóteles, ora em processo de preparação para publicação pelo docente, serão fornecidas em tradução original para o português, com as considerações filológicas relevantes assinaladas em notas.

Ementa: Para a maior parte dos interessados e estudiosos de filosofia com perfil generalista, o contato com as obras não leva em consideração o intrincado percurso de transmissão textual e suas vicissitudes (como adulteração e perdas). Porém, a própria ideia de ¿texto original¿ é abalada pela constatação de que não temos, e não temos como aspirar a ter, os originais de Platão e Aristóteles, senão que as cópias e testemunhos de que dispomos nada mais são do que pontos de uma tradição que se irradiou de tal modo que cada ramo combina preservação e corrupção. E inescapavelmente em passos decisivos para uma adequada caracterização do pensamento do autor, ou da posição do autor na história do pensamento, a tentativa de restituir o mais remoto estágio de transmissão textual requer avaliações e decisões que, embora possam ser justificadas, não podem ser ultimamente comprovadas. Pretendemos oferecer, em nível de introdução e sem exigir o conhecimento do grego antigo, uma familiarização com noções e informações que alarguem o horizonte em que se insere o estudo da filosofia da Antiguidade, habilitando o interessado a uma aproximação mais nuançada dos conteúdos examinados, explicitando mediações que modificam significativamente a perspectiva sobre as obras e a sua história.